sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

As Doras e os Tordos deste País

Euzinha, um exemplo de mulher desempregada sazonalmente, agora só em part-time. Entendi que estar no desemprego não era coisa para mim. Isto de ter que ir assinar de 15 em 15 dias, de frequentar cursos, de andar com o rabo pela casa a ver os programas da manhã ia ensandecer-me, no mínimo, tudo bem que era paga, mas não dava! Sentia-me uma inútil! Pus mãos à obra, elaborei um curriculum todo jeitoso, personalizei as minhas respostas para as vagas, baixei- em muito- as minhas expectativas salariais e de trabalho e procurei, procurei... Se encontrei algum emprego fabuloso, claro que não! Encontrei trabalho, algum, mal pago é uma realidade, a receber menos de metade do que estava habituada, mas não desisti, continuei a procurar. Neste momento, tenho dois trabalhos, em part-time, ganho sensivelmente o mesmo que ganhava um ano atrás, com um só trabalho. Tenho o prazer de fazer o que gosto.  Mas, já sei que quando chegar a Julho tudo isto acaba. Que volto para a situação de Desemprego e nessa altura farei tudo novamente, irei à luta, para procurar algum trabalho que me agrade, que seja minimamente bem pago e que me permita sobreviver.
Não me choca que a Dora - a cantora do Não sejas mau para mim- tenha começado a trabalhar no McDonald's. Percebo perfeitamente, não entendo as piadas de mau gosto, o escárnio. Quando temos que fazer pela vida, todos os trabalhos são honestos. Se não conseguimos na nossa área, não é por ser num restaurante, a varrer umas ruas, a cuidar de uns velhinhos que não devemos aceitar um trabalho. Precisamos, então o importante é trabalhar. Não ambiciono trabalhar no McDonald's, mas se tivesse que ser, seria! Se ficaria contente? Não! Porque não é o meu emprego de sonho, mas teria um ordenado ao fim do mês. 
É que muitas vezes, as pessoas que gozam, fazem escárnio, criticam quem aceita trabalhos menos qualificados vai para fora, para o estrangeiro, fazer esses mesmos trabalhos. Conheço algumas pessoas assim, que enquanto cá moraram nunca quiseram desempenhar algumas profissões, porque não eram respeitosas no entender delas, mas, no entanto, lá fora não se importam de trabalhar como empregadas domésticas, trolhas, no lixo. É, óbvio, que percebo que, quando se ganha 2000€ para limpar as casas de alguém é muito mais gratificante do que ganhar 600€ ou 700€, mas isso também é uma escolha.
O cantor Fernando Tordo emigrou, saiu do País à procura de uma nova oportunidade. Não gosto de ver as pessoas a abandonarem o País, a não serem valorizadas, a terem que sair, seja para ganhar mais, seja para procurarem oportunidades. O que me choca é que os Portugueses, de uma forma geral, escarnem gozem, ridicularizem essas situações.
Sabemos que em situações de crise a cultura é das primeiras coisas a ser negligênciada, mas também o é a educação, a saúde,os direitos dos trabalhadores e por aí fora. Não percebo como num País que está a passar uma grave crise económica, em que não vemos os nossos governantes a fazerem grande coisa. Os Portugueses não se unem, não lutam pelos seus direitos, simplesmente criticam, gozam, ridicularizam as atitudes dos outros. Era melhor estes dois exemplos -e Euzinha também- estarmos a viver do subsídio de desemprego e das reformas, em vez de arregaçarmos as mangas e ir à procura? Não acho que fosse, tenho um enorme respeito pelas Doras, pelos Tordos  deste País.

7 comentários:

  1. estas a trabalhar no que gostas? tens muita sorte, infelizmente ouço muitas vezes o oposto

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  2. Completamente de acordo apenas discordo de todo o show-off feito no segundo ex que dá. Como diria o outro "nao habia nexexidade"

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  3. Em Portugal é-se preso por ter cão e preso por não ter. Tudo se critica, graças a Deus. Se cada um se mete-se na sua vida e respeita-se a escolha dos outros...isso é que era.

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  4. Está coberta de razão em relação ao que escreve. Infelizmente, os portugueses são demasiado mesquinhos no que toca à pouca sorte dos outros. São muito bons a apontar o dedo mas esquecem os donos do dedo.

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  5. Eu nem sei se me sinta bem ou mal com o texto... uma pessoa manda curriculum e vai a todo o lado e mesmo assim ninguém me contrata... e eu não ando a receber do IEFP (se calhar é por isso que nem nas candidaturas que envio por eles recebo resposta e nunca recebo e-mails, nem cartas para ir a lado nenhum) e já ando a dar em doida.

    Quanto a ser empregada de limpeza (também já me candidatei) mas só um pequeno "à parte" - as pessoas que conheço cá que trabalham como tal não recebem o ordenado mínimo (485€) e, por exemplo, a minha mãe fazia limpezas num lar e recebia 3500CHFr... é muito diferente. Era o suficiente para manter 2 adultos, 2 crianças, um apartamento, um carro... o resto do dinheiro era mandado para Portugal - hoje arrependem-se imenso de terem enterrado cá o seu dinheiro e já começam a pensar em voltar. E sem dúvida que a nossa qualidade de vida lá ultrapassava a que temos cá a milhas (só com o ordenado da minha mãe) - o meu pai recebia perto de 6000CHFr e cá recebe o ordenado minimo... portanto, é muito diferente.

    O problema é que as pessoas não estão a emigrar por opção mas por serem empurradas para fora do seu país porque lá fora mesmo a fazer coisas que cá receberiam 200€/300€ lá recebem 3000€ ou 4000€ e mesmo o custo de vida entre nós e o exterior não é assim tão grande. Actualmente tenho familiares nos arredores de Paris a pagar 500€ de renda por uma moradia, com jardim e jamais irão retornar a este nosso país.

    Para terminar, a mim revolta-me que para os governantes os jovens sejam tão dispensáveis e tão mal-tratados, encaram a emigração como algo "banal" e acredito que devem pensar que quem emigra vai ser burro ao ponto de retornar cá ou de mandar o seu dinheiro para este país e acho que estão redondamente enganados (de todos os que conheço - uns 50 um pouco por todo o mundo - nenhum pretende voltar, mesmo aqueles que não estão a trabalhar na sua área). Estou para ver onde vão buscar o dinheiro para pagar as pensões daqui a uns anos - sem pessoas não há descontos, não há dinheiro, não há país e não há reformas.

    Triste país este que trata como lixo os seus mas depois dá regalias aos estrangeiros que se tornam extremamente injustas (nomeadamente isenção de impostos de 5 anos a comerciantes chineses), seja em bolsas para estrangeiros quando as retiram aos investigadores portugueses... enfim.

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  6. Deviam de existir mais portugueses como tu!... Há crise mas há vontade... Não há trabalho ao virar da esquina, mas procura-se... não chega um, então vou ter dois trabalhos!
    Como eu costumo dizer...Haja saúde que o trabalho não me assusta!!
    Beijinhos***

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  7. eu conheço pessoas que vão para o estrangeiro fazer trabalhos menos qualificados e que chegam cá a dizer que têm um trabalho extraordinário, como se um trabalho honesto fosse menos honroso. O problema de Portugal não é o facto de haver trabalhos mais ou menos honrosos o problema é a política de salários baixos que não permite que as pessoas tenham uma vida digna.
    Deve ser muito difícil uma mulher conhecida trabalhar no Mac só posso admirar a coragem da senhora.
    Já o caso Tordo acho lamentável que uma pessoa que soma a sua pequena reforma, os direitos de autor e os lucros da sua empresa que só por ajuste directo na contratação pública recebeu nos últimos anos cerca de 200 000 euros, se ponha com o discurso do 'sou pobrezinho' soa tão falso como o Presidente da república dizer que a reforma de 10 000 euros não chega ou o Primeiro-ministro dizer que não come bacalhau por ser caro. Foi uma chamada de atenção que saiu furada pelo populismo ... enfim!

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